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3 anos em Madrid (18/03/2022)
Madrid com praia era a melhor cidade do mundo ... foi esta a expressão que mais vezes usei para descrever o que é viver aqui! Começa logo no cumprimento, “¿Cómo estás?” – “¡Muy bien!” não existe meias medidas, tudo é intensidade, num instante estão todos a falar alto, depressa, com aquilo que consideramos asneiras, mas que depois de entenderes as diversas entoações compreendes os mil e um significados de cada palavra e expressão, e quase sempre inofensivas.
A vida é para ser vivida, os problemas não se carregam nas costas, qualquer temperatura é boa para estar na rua, isto é, numa esplanada (terazza), para um madrileño não existe lugar para tristeza, tudo é motivo para uma nova rodada de cerveja, vermut, tinto verano, croquetas, tortillas, não fossem as Copas & Tapas o desporto nacional.
Todas as perguntas para um “guiri” são intrusivas, mas são feitas sem juízos de valor, querem partilhar desde a historia mais aborrecida ao evento mais escaldante. Consegues “quedar” com vários grupos diferentes no mesmo dia, algo “en plan de” de aperitivo, de comida ou cena, entretanto no meio vais caminhar pela Gran Vía, passas pelo Retiro, e acabas outra vez numa terraza.
Contudo, Madrid é especial, os “gatos” (madrileño de terceira geração, e assim chamados porque durante as invasões napoleónicas estes trepavam as muralhas defensivas para trazerem mantimentos para abastecer a cidade sitiada), estão profundamente influenciados pelos latinos, são um mix do “jeitinho” com a “organização”. Todo o dia, é dia para se juntar um grupo de amigos, não tem povo como este a criar laços de amizade e companheirismo, aqui o “vamos combinar qualquer coisa” acontece na semana seguinte, são duros com os temas de futebol, política e feminismo mas ao mesmo tempo o empregado do bar da rua é o amigo que recebe as nossas encomendas.
O país conhecem-no pela comida: “na cidade x, comes o prato y, no restaurante w”, é tema de debate se a tortilla é com ou sem cebola, se gritas por “Hala Madrid” ou “Aupa Atleti”, se és de “derechas o izquierdas”, tudo o resto é completado com um “eso es”, “total”, “a tope”, “de puta madre”, “es la leche” .... e assim um detalhe de 2 minutos é uma conversaçao de 2 horas.
Não sabes em que altura passas a entender todos os diferentes sotaques, e quando passas a saber de onde é esse mesmo sotaque, nem quando o teu portunhol passa a ser confundido com gallego. A cidade está sempre em mutução, sempre encontras alguém dentro de um bar por mais “cutre” que seja. Usas transportes públicos (que são pontuais e frequentes), caminhas muito e qualquer distância demora “cero coma” a percorrer.
É uma experiência e tanto, um inverno gelado e um verão abrasador, o horário das coisas está programado para que quando deixas a “oficina” ainda estejam abertas as lojas, e não demora muito para que escutes um “guapo” ou “cielo”. Podes “echar una mano”, “echar un cable”, “echar un vistazo”, “echar a la calle”, “echar la culpa”, “echar una cabezada”, e “echar de menos” (saudade).
Uma lugar perfeito para estar solteiro, um lugar brutal para estar num relacionamento, é preciso querer muito para estar triste em Madrid. Acorde cedo, escolha ir conhecer um “pueblo”, ir “a la montaña”, escolher “una playa” no sul, no norte nas ilhas e vá de avião, Cercanías, RENFE, AVE, AVLO ou OUIGO. O básico, museus, exposições, teatros, concertos, cinema (não se esqueça de procurar a VOSE – versao original subtitulos em espanhol), existem para todos os gostos, e uma vez mais, restaurantes e bares e locais de ócio inauguram todos os dias.
Curiosamente, para Madrid ser a melhor cidade do mundo, talvez não lhe falte nem sequer ter uma praia.